Quando eu era pequena, vivia num quarto cheio e desarrumado, de móveis de origens diferentes e coloridos, com brinquedos e papéis e livros a inundarem as prateleiras. Pensava que o normal seria a organização, cada coisa no seu lugar, prateleiras, compartimentos e gavetas cuidadosamente planeados, todo o quarto governado por uma espécie de estandardização. Um sonho que sabia inatingível, quando confrontada com os meus próprios limites de ordem, tão próximos. Mudei de casa, de quarto, móveis brancos e vazios, memórias de infância ainda por espalhar. Pensei até em mantê-lo nessa paz para o olhar, mas aos poucos enchi-os com o meu presente e o passado que a cada segundo passa, pois foi assim que me apercebi que um quarto desarrumado é um quarto vivido, e que a desorganização, por mais frustrante que seja para a minha cabeça, já é um dos confortos do lar dos quais não posso prescindir.
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